Desde criança aprendi a conviver com marcantes personagens da literatura e com as músicas de grandes compositores. Por isso, com relação aos compositores sempre os considerei como amigos.
Uma amizade diferente, pois quando falamos em amigos, logo pensamos naqueles que em todos os momentos estão sempre disponíveis para ouvir-nos. Neste caso com os compositores, sempre gostei de ouvi-los com suas mensagens musicais. Cada som ouvido, imediatamente permitia um pouco de imaginação. Se fosse de um filme já visto, reviver as cenas, enquanto que daquele não visto poder soltar a imaginação. Essa amizade recente com o compositor Jóhann Jóhanssonn nascida a partir de 2013 com seu trabalho para o filme PRISIONEIROS. A cada trabalho de Jóhanssonn, tinha a sensação de um assunto novo, justamente por se tratar de um compositor criativo e que bem por isso não dava a sensação de já ter ouvido aquilo antes. Jóhanssonn depois que lançou o álbum intitulado ORPHEU, organizou uma apresentação concertista eletrônica abrilhantada por um quarteto de cordas e um conjunto vocal. Assim como Nicola Piovani criou um concerto mitológico com a Viagem de Ulisses, também Jóhanssonn enveredou pelo mesmo caminho, desta feita narrando a incursão de Orfeu para resgatar a sua esposa Eurídice no submundo.
Foi no Fórum Profissionais de Trilha Sonora, através do seu coordenador, o amigo Mauricio Domene que tomei conhecimento da morte de Jóhann Jóhanssonn. De início, pensei que se tratava de um “fakenews”, pois no esplendor da forma criativa seria impossível acreditar em tal fatalidade. Se a vida se constitui numa surpresa, o que dizer a respeito da morte.
Jóhanssonn é como aquele amigo que quando resolve sair da “pelada”, então é melhor parar o jogo que perde a graça. Se marcamos um chope e ele não aparece, então não vale a pena beber sozinho. Mas, se por um lado sua morte significa que não teremos mais uma música nova, isso não tem importância. Vamos fazer de conta que o nosso amigo envelheceu e como tal, tem todo o direito de dizer sempre as mesmas coisas, o que significa que sempre valerá a pena ouvir novamente a sua obra que, como o bom livro, que sempre merece ser lido novamente!
Adquiri a trilha sonora do último trabalho de Jóhann Jóhanssonn para o filme THE MERCY e montei uma suíte que pode servir de fundo musical para este texto.
